
Aos 5 anos, Bruna (nome fictício) disse para a mãe que era menina, e não menino, como seu corpo havia nascido. A frase surgiu num momento em família, quando Bruna estava com seu irmão mais novo e a mãe e ficou paralisada na frente de uma boneca da personagem Moranguinho. Naquele momento, a mãe disse para Bruna procurar algo de menino, mas ela não quis, e elas acabaram levando a Moranguinho.
Até ali, Bruna, tratada ainda como um garoto, era uma criança quieta, não brincava ou interagia muito. Ela e o irmão estavam há quase dois anos com os pais adotivos, que hoje têm sua guarda definitiva e vivem em uma zona rural do Rio.
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— Ela já veio diferente do mercado, mais animada. No dia seguinte, eu lavava louça e ela disse: “Mãe, eu sou sua amiga”. Corrigi o gênero e ela corrigiu de volta: “Sou sua amiga porque sou menina” — lembra a dona de casa, que “mal sabia o que era ser trans”:
— Eu a botei do lado do irmão e mostrei que eram meninos. Mas ela insistiu. O susto foi tão grande que liguei na psicóloga e falei: “Tem outra criança dentro dela”.
Após alguns dias, a escola começou a ligar para a mãe. Ali começava uma batalha na vida da família de poucos recursos financeiros para a aceitação de Bruna na sociedade.
